terça-feira, 25 de agosto de 2009


Então vai, continua, me congela por inteira.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Liberdade solitária


E lá estava Thomas de novo a desenhar-se vazio. Não desenhava seu corpo em si, mas sim a solidão que o habitava. Solidão da qual apreciava, da qual absorvia sabor doce, quase enjoativo. Não tão enjoativo a ponto de querer jogar fora, só por alguns momentos...
Thomas não era triste. Thomas não era nada, porque Thomas era tudo. Thomas era aquilo que decidia ser, no momento mais adequado. Nunca foi verdade. Sempre, sempre mentira. Desde criança... Desde quando esbanjava para seus primos a quantidade gigantesca de amigos que o embalava no balanço, ninguém via seus amigos, ninguém os enxergava. Ninguém, nem mesmo seu cachorro, acreditou em sua verdade. Até que Thomas deu-se por convencido, e acreditou na mentira alheia. Thomas mentia.
Não tinha apego à coisa nenhuma. Nunca chorou pela perda de alguém, a não ser a sua. Thomas sempre chorava quando se perdia, quando não sabia o que fazer. Thomas chutava a porta e depois ria, não faria nada, ele sabia.
Thomas pensava em viver sozinho, distante, numa montanha – com um lago se possível. Esperava ser esquecido pelo mundo, e assim, quem sabe poder esquecer o mundo também. Porque o mundo, para Thomas, era faca de dois gumes. E as cicatrizes, tão profundas que quase não se viam, o incomodavam constantemente.
Thomas aprecia a escrita, mas só escrevia morto. Sabia bem que as palavras só desenhavam-se no papel quando estava ferido, sangrando. E conhecia bem seu lado masoquista, apreciava sua dor.
Thomas não sentia por ninguém, e ninguém sentia por Thomas. E gostava disso, do desapego. Odiaria depender da vida de alguém, odiaria ainda mais se dependessem da sua. Thomas era livre, solitariamente livre. Solitariamente embalado por amigos inexistentes, era assim que Thomas gostava de viver. Solitariamente.

Bruna Berri

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Em seu lugar


Gostava muito, impossível explicar. Sempre considerou a felicidade intensa demais para transformá-la em palavras.
Seu sorriso explicava tudo, impossível não sorrir diante daquele olhar. Olhar que tinha efeito de cócegas nos joelhos, cócegas na barriga, cócegas onde quer que fosse. Olhar que derretia o gelo, aquecia a vida. Olhar que por vezes tão distante preocupava instantaneamente... "Ei, volta pra cá. Estou aqui agora, sempre estive."
Seu abraço sufocava os medos, as dores, e só deixava ali seus vazios cada vez mais preenchidos. E então esquecia do mundo... "Espera, põem os pés no chão". Costumava ter sempre os pés firmes - quase enterrados - no chão, mas agora não estava, e gostava, amava.
Sabia bem de quem lembrava ao sentir o cheiro de chuva que entrava pela janela. Sabia bem quem era aquele que tocava o mais fundo de si. Sabia bem onde queria estar, e estava, amava.

Bruna Berri

domingo, 9 de agosto de 2009


"Há em você alguma coisa de mim. Alguma coisa que eu vejo e me acalma. Como se eu pudesse deitar de novo no lugar de onde vim, pois só você sabe que lugar é esse. Então você me entende. E eu não me entendo tanto quanto entendo de ti. Talvez isso seja amor. Talvez não. Seja lá o que for, é incondicional."


Fernanda Young

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

"Quantas vezes é possível perder algo ou alguém por um simples mal entendido? Quantas e quantas vezes a palavra não serve para nada, ou pior, presta-se apenas para piorar o estado das coisas? Não que o silêncio seja esclarecedor. O silêncio num rosto inexpressivo é um túmulo."

Fernanda Young

Relances solitários



Sou a favor daqueles que pensam em não dizer. Se você não sente, não diga... Pois há quem sinta, e quem espera ouvir, e há quem cairá ao perceber o quão fracas podem ser as palavras. Se você não espera perder o seu fôlego, não tranque a respiração. Pois vai parar de respirar assim que quiser mais e isso sufoca. E, particularmente, isso me sufoca de uma maneira irreversível... Céus! Não quero partir, não quero desistir agora. Contudo, quando se está à beira de um abismo, ele te consome por inteiro. E se você não espera ser controlado, mantenha seu controle intacto.

Mas não há nada que me tire tanto o controle quanto sua indiferença.


Bruna Berri

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Me deixa.


E lá vou eu chorar minutos e minutos, como se chorar resolvesse muito de meus problemas. Lá vou eu afundar a cabeça no travesseiro como se isso fizesse adormecer todos os meus medos, minhas insônias. E então eu sento no telhado e experimento o vazio, quisera eu permanecer sozinha no frio por muito tempo... Até que os sentimentos congelassem e eu não chorasse por mais nada.
E como eu odeio passar frio. E veja só quantas estrelas no céu, quanto fogo nesse inverno... O qual obviamente não posso sentir. Um arco-íris nas mãos de um cego. Depois me perguntam por que diabos não sonho. Sonhar? Sonhar pra quê? Quero tudo imediatamente, mas de imediato não posso querer nada.


Bruna Berri