quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

TYMOS


Paixão. Outrem. O outro. Alguém. O que não se diferencia. Não se enquadra. Que não aparece. Outro eu mesmo que não sou eu. Alma deserta. Mas uma réplica minha. Experiência. Experiência minha que percebe um outro eu mesmo que não é o eu. Que não está nas coisas. Não está no corpo. Mas come no banquete dos meus sonhos. Que sonhos? Eu já nem sonho. Eu já nem como. Nesse relacionamento mudo. Medonho. Nessa falta imensa, que nunca achei que, acordada, pudesse sentir. Meus sentidos dualizam. Capto-me em seus ouvidos. E quando percebo, é sua a voz que sai de minha boca. Que me seduz. E me transforma. E já nem sei se sou eu ou se sou o outro. O que não sei. Mas não saber, às vezes no canto escuro do quarto, dá uma paz imensa, com uma falta imensa de um segredo imenso que não sei onde está. Onde está? Em parte alguma. E nem se define. Mas eu tento. Repito. Persisto. E mergulho. Onde não sou apenas para mim, mas também sou para outrem. Nesse silêncio inexistente, Que vem trazendo a angústia. Confunde. Mente. Abala-me. Curva minhas mudanças climáticas. Como na loucura que não se estuda, mas se vive. Tudo o que existe é meu. Existo? Encontro o meu corpo assim com encontro o outro. Me encontro no outro. Eu sou o outro. Eu sou o outro quando ouço, no cantinho do cérebro, quase no dedinho do pé, uma voz que vem de mim, mas não é a minha. Eu sou o outro na lembrança que dá falta. Na lembrança que dá ânsia. No fenômeno psíquico. No afeto. Na perda. No gozo. Eu gozo. Tu gozas. Perdemos. Alguém. O outro. Outrem. Paixão.

Bruna Berri