Meu inferno são os outros que
penso que existem, mas não sei se estão aqui. Pode ser que você não passe de
uma estranha desenhada em uma camiseta. Puro toque de um outro que me tocava –
e era tocado – e hoje murcha ao me ver. Tenho medo de negar sua realidade, para
não chateá-la – para não chatear-me. Lembro do cabelo negro sobre sua pele
branca, translúcida. Lembro do sorriso amarelado, quase cruel. Lembro dos seus
olhos amendoados, punitivos. Mas não lembro de suas vestes. Não lembro se seus
longos fios eram lisos ou cacheados, mãos grandes ou pequenas, o som de um riso
amargurado. Faz tanto tempo que você não aparece que quase não lembro do seu
semblante. Você permite que eu pense que meu passado foi um surto, uma alucinação.
É isso que me dizem todos os dias e já fazem quatro anos que você não está aqui
para me contar quem é que me diz a verdade. Joaquina, você se lembra de mim?
Pois não me esqueço de você.
Bruna Berri
2 comentários:
Nossa, muito bom!
É tão triste quando eles somem, não é? Fica um eco dentro da gente, repetindo um nome que talvez já não tenha a quem nomear.
Será que ela e Miguel fugiram juntos? Talvez tenham encontrado alguém que precisasse mais do que nós. Talvez tenham se encontrado.
Lindo texto, Bru.
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