terça-feira, 23 de outubro de 2012

O inferno são os outros.



Meu inferno são os outros que penso que existem, mas não sei se estão aqui. Pode ser que você não passe de uma estranha desenhada em uma camiseta. Puro toque de um outro que me tocava – e era tocado – e hoje murcha ao me ver. Tenho medo de negar sua realidade, para não chateá-la – para não chatear-me. Lembro do cabelo negro sobre sua pele branca, translúcida. Lembro do sorriso amarelado, quase cruel. Lembro dos seus olhos amendoados, punitivos. Mas não lembro de suas vestes. Não lembro se seus longos fios eram lisos ou cacheados, mãos grandes ou pequenas, o som de um riso amargurado. Faz tanto tempo que você não aparece que quase não lembro do seu semblante. Você permite que eu pense que meu passado foi um surto, uma alucinação. É isso que me dizem todos os dias e já fazem quatro anos que você não está aqui para me contar quem é que me diz a verdade. Joaquina, você se lembra de mim? Pois não me esqueço de você.

Bruna Berri

2 comentários:

Zetrusk disse...

Nossa, muito bom!

Monique Burigo Marin disse...

É tão triste quando eles somem, não é? Fica um eco dentro da gente, repetindo um nome que talvez já não tenha a quem nomear.
Será que ela e Miguel fugiram juntos? Talvez tenham encontrado alguém que precisasse mais do que nós. Talvez tenham se encontrado.

Lindo texto, Bru.