sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009



"Como uma segunda versão de um livro ruim... Se esperava pouco dele, mas se esperava."

Bruna Berri

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009


"Loucura, eu penso, é sempre um extremo de lucidez. Um limite insuportável."


Caio Fernando de Abreu

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Hora de partir?


Ele era como um peixinho, como um peixinho que não tinha conhecido nada além de seu castelinho sujo e pedrinhas coloridas que enfeitavam seu pequeno aquário.
Não é que ele não gostasse do lugar onde estava, ele era feliz ali. Mas ele sabia que havia um mundo muito maior a sua espera, um mundo muito melhor.
Ele não queria ser ingrato, mas há tempo o castelo não mudara, e suas pedrinhas quase não mudavam de posição. A cor da parede continuava vermelha, e o velho retrato preto e branco de um jardim possivelmente colorido continuava intacto no centro da parede.
A vontade de mudar se tornava angustiante com o passar dos dias, a vontade do novo. Mesmo não sabendo o que esse novo reservava.
Ele tinha pena de largar tudo, pois afinal, com a sua partida o castelinho se sentiria solitário. Justo ele, que esteve sempre ao seu lado, lhe protegendo nas noites barulhentas, dos dedos tortos e sujos das crianças, do gato mesclado de olhos laranja.
Partir era difícil, ainda mais quando falamos de um mundo desconhecido e geralmente sem volta. Mas às vezes, na maioria das vezes, necessário.
Porém havia o vidro, e isso realmente o encantava. O vidro lhe dava o infinito. Era como água sólida e quentinha. Era como, era como, era como... ele não sabia explicar o quanto era.
Mas ele também não podia esquecer das pedras. Tão coloridas, tão pequeninas que o faziam se sentir gigante. Às vezes, quando perdia o sono, ele pensava nelas. O seu colorido ficaria sem saturação se não fossem as pedrinhas que tonalizavam o ambiente.
E no fundo, ele até gostava da parede vermelha, e o quadro descolorado lhe dava a sensação de ser ainda mais vivo.
E então ele ficou. Mas para querer ficar, teve que querer partir.

Bruna Berri

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009


Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.


William Shakespeare

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Encontrando felicidade.


A felicidade está na minha blusa da sorte. No almoço quentinho. No balanço enferrujado, no traseiro entalado no escorregador. Está no reflexo do espelho. No embalo charmoso do rabo do gato. No sofá aconchegante. Nos meus filmes preferidos.
A felicidade está no passo – desastroso, ou não – de dança. No sorriso de uma criança. Na lua gigante, no céu. Está no banho de chuva. No abraço apertado. No olhar concentrado. Na afinidade reencontrada.
A felicidade está na valsa silenciosa de minhas cortinas com o vento. Na empolgação que tenho com o início. Na música que eu ouço repetidamente durante o dia. No cheiro gostoso da chuva. No banho de água gelada. Nos sonhos de todas as noites. Está na piada sem graça, na pipoca sem sal. No berro descontraído. No pulo em uma poça d’água.
A felicidade está, definitivamente, em tudo.


Bruna Berri

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Quem deixou você partir?


Eu odeio isso. Odeio ter que saber que daqui a um tempo não seremos mais do que apenas belas lembranças. Não entendo porque tudo um dia tem que ir embora, ou porque as coisas com o tempo viram pó.
Queria poder congelar o tempo, as pessoas, os gestos e os traços do rosto em minha mente. Porque eu sei que um dia, eu vou esquecer. E eu não queria.
Não entendo porque sempre tenho que me atrasar, se procuro ser muito pontual. Estou cansada das surpresas da vida, que me pegando despreparada permitem que eu caia no chão num baque só, sem piedade.
Eu queria poder chegar na estação antes do trem partir, queria poder dar mais do que apenas um aceno rápido e melancólico. Queria tanto poder dar um abraço forte, aquele que esmaga os ossos e com seu final muito demorado.
Eu queria que ele ficasse, mas eu sei que deve ir. Talvez agora seja a hora certa. Nada vai poder tirar de dentro de mim o que ele plantou. E nada vai poder calar/confortar a dor ardente da perda. Nada vai fazer mudar a falta que já começo a sentir.
Não sei se foram os planos que fizemos, ou a maneira atenciosa dele estar sempre ao meu lado. Talvez seja pelos álbum da sua infância que me divertiam tanto, e também a maneira compreensiva de escutar tudo o que eu tinha a dizer. Talvez tenha sido tudo. E por esse tudo é que percebo hoje, o quão ele é importante para mim.
Boa sorte. E por favor, lembre de mim, porque eu sei que eu não esquecerei de você.


Bruna Berri

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009


"Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela,mas há aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol."

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009



"Meu maior medo é viver sozinho e não ter fé para receber um mundo diferente e não ter paz para se despedir. Meu maior medo é almoçar sozinho, jantar sozinho e me esforçar em me manter ocupado para não provocar compaixão dos garçons. Meu maior medo é ajudar as pessoas porque não sei me ajudar. Meu maior medo é desperdiçar espaço em uma cama de casal, sem acordar durante a chuva mais revolta, sem adormecer diante da chuva mais branda. Meu maior medo é a necessidade de ligar a tevê enquanto tomo banho. Meu maior medo é conversar com o rádio em engarrafamento. Meu maior medo é enfrentar um final de semana sozinho depois de ouvir os programas de meus colegas de trabalho. Meu maior medo é a segunda-feira e me calar para não parecer estranho e anti-social. Meu maior medo é escavar a noite para encontrar um par e voltar mais solteiro do que antes. Meu maior medo é não conseguir acabar uma cerveja sozinho. Meu maior medo é a indecisão ao escolher um presente para mim. Meu maior medo é a expectativa de dar certo na família, que não me deixa ao menos dar errado. Meu maior medo é escutar uma música, entender a letra e faltar uma companhia para concordar comigo. Meu maior medo é que a metade do rosto que apanho com a mão seja convencida a partir com a metade do rosto que não alcanço. Meu maior medo é escrever para não pensar."


Fabrício Carpinejar