segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Liberdade solitária


E lá estava Thomas de novo a desenhar-se vazio. Não desenhava seu corpo em si, mas sim a solidão que o habitava. Solidão da qual apreciava, da qual absorvia sabor doce, quase enjoativo. Não tão enjoativo a ponto de querer jogar fora, só por alguns momentos...
Thomas não era triste. Thomas não era nada, porque Thomas era tudo. Thomas era aquilo que decidia ser, no momento mais adequado. Nunca foi verdade. Sempre, sempre mentira. Desde criança... Desde quando esbanjava para seus primos a quantidade gigantesca de amigos que o embalava no balanço, ninguém via seus amigos, ninguém os enxergava. Ninguém, nem mesmo seu cachorro, acreditou em sua verdade. Até que Thomas deu-se por convencido, e acreditou na mentira alheia. Thomas mentia.
Não tinha apego à coisa nenhuma. Nunca chorou pela perda de alguém, a não ser a sua. Thomas sempre chorava quando se perdia, quando não sabia o que fazer. Thomas chutava a porta e depois ria, não faria nada, ele sabia.
Thomas pensava em viver sozinho, distante, numa montanha – com um lago se possível. Esperava ser esquecido pelo mundo, e assim, quem sabe poder esquecer o mundo também. Porque o mundo, para Thomas, era faca de dois gumes. E as cicatrizes, tão profundas que quase não se viam, o incomodavam constantemente.
Thomas aprecia a escrita, mas só escrevia morto. Sabia bem que as palavras só desenhavam-se no papel quando estava ferido, sangrando. E conhecia bem seu lado masoquista, apreciava sua dor.
Thomas não sentia por ninguém, e ninguém sentia por Thomas. E gostava disso, do desapego. Odiaria depender da vida de alguém, odiaria ainda mais se dependessem da sua. Thomas era livre, solitariamente livre. Solitariamente embalado por amigos inexistentes, era assim que Thomas gostava de viver. Solitariamente.

Bruna Berri

3 comentários:

Thuane disse...

Voce tem feito textos tao profundos ultimamente o.O
Mas são lindos, de todo o jeito.Nao da pra negar que pensar nessa vida de Thomas deixa a gente um pouco complexado.Isso é o significado de poesia, de grandes escritores.O pensar social.Parabens Bru, sao lindos teus textos e esse -em especial- muito forte.

Ahh flor, e obrigado por tudo viu! adoro vc ;)

Felipe Braga disse...

Pois bem...
Me identifiquei demais!
Profundo, sensível, sentimental.
Um carinha na alma de quem gosta de textos poéticos.
Beijos.

Phalador disse...

Pois é! Escolhas, ele gostava de viver assim, isso é o que nos deixa mais tranquilos né? Ele gostava de ser assim.