terça-feira, 10 de março de 2009

Garoto escuro


Eles vinham andando no escuro, todos de preto. O da frente foi o que mais chamou minha atenção. Sua capa longa arrastava pelo chão e balançava seu negro brilhante conforme o vento frio dançava com o tecido pesado.
Ele era seguro de si – eu pensava. Caminhava de cabeça erguida, passos firmes. Os olhares a minha volta acompanhavam todos os seus passos, fiz o mesmo. Parei discretamente em frente a uma vitrine, aguardei.
Conforme ouvia seus passos se aproximando fui perdendo a segurança que tinha em mim, desejando sair correndo. E quando ele já estava bem perto, desviei meus olhos ao seu encontro e o encarei por dois segundos.
Terrível sensação. Havia tanta frieza e maldade naqueles olhos que me fez sentir medo. E ri. Ri porque é isso que faço quando estou nervosa. O segui com o olhar até desaparecer de vista.
Não pude reparar nos detalhes, a lua estava cheia, mas as nuvens a cobriam quase que por inteira. Os postes costumavam falhar.
Desejei ardentemente que ele passasse por mim de novo. Eu queria poder lembrar dos traços de seu rosto. Queria saber se ele gosta de astrologia e matemática. Queria tocá-lo, sentir sua pele fria queimar a minha.
Entretanto, ele era o escuro. O mesmo escuro que eu tanto temia. Que me faz ver monstros nas sombras do vai e vem dos carros na rua. Ver serras elétricas nas hélices do ventilador. Ele era o mesmo escuro que me fez criar o hábito de acender todas as lâmpadas, até mesmo na luz do dia.


Bruna Berri

Um comentário:

Monique disse...
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