quinta-feira, 12 de março de 2009

Secos em dias chuvosos


Eu vi as gotas de água que caíram do céu rapidamente. Vi nuvens indo embora às pressas, sem malas, sem despedidas. Vi olhares secretos observando tudo quase que despercebidamente. Vi poças de água suja ocupando o meu lugar na calçada. Não devem lembrar, mas passamos pelo mesmo caminho, ainda esperando a chuva passar. As gotas de orvalho ainda pairavam sobre as folhas verdes. Eu ainda costumava falar sem razão.
Mas alguma coisa estava mudada, muita coisa estava mudada. Não usávamos casacos, nem ao menos reclamávamos do frio. Estava quente. Mas por dentro, estávamos ainda mais gélidos, secos. Nós não conversamos mais como costumávamos conversar.
Eu vi de baixo de minha cama minha famosa caixa em forma de coração. Eu odiava fazer isso. Baguncei os envelopes. Abri, olhei, guardei. Morremos.
Morremos porque somos quase estranhos, desconhecidos. Porque eu me preocupava, eu sempre me preocupo. Como se eu tivesse certa participação especial, breve, muito figurada. Penso que a vida é demasiadamente dura, que certas coisas não mudam. Eu estou cansada. Outro passo falso pode me levar à loucura.


Bruna Berri

2 comentários:

Jota Reis disse...

Compartilho.

Monique disse...

E como uma fênix (insuportavelmente permanente) iremos renascer - eu espero.